ROMANCE INFANTOJUVENIL (FRAGMENTO) - UM BOM SUJEITO - ANTÔNIO CARLOS OLIVIERA


 Antônio Carlos Oliviera 

Leia um fragmento do romance Um bom sujeito, que conta a história de Reinaldo, um garoto decidido a conquistar Valéria, a garota por quem está apaixonado. Sabendo que ela adora garotos inteligentes, Reinaldo resolve ter aulas de Língua Portuguesa com seu amigo Ricardo para chamar a atenção da garota durante a aula. Confira.


 

[...] Foram cinco tardes de muito estudo. E Reinaldo tinha um objetivo a atingir. Por isso, tratou de prestar atenção às lições de Ricardo e raciocinar. Resultado: aprendeu direitinho o que queria.

– Hoje, vou dar um show! – garantiu a uma colega, no início da aula, alguns dias depois.

Era só esperar a professora chamá-lo, pensou. Vinte minutos passados, bateu a impaciência. Será que a professora tinha esquecido dele? No quadro-negro, outro menino tinha acabado de grifar os sujeitos das orações que Márcia pedira.

– Parabéns! – a professora cumprimentou os acertos.

Reinaldo levantou a mão. Olhava para a primeira oração escrita no quadro. Ela era:

 O time da escola venceu os visitantes por dois a zero.

O sujeito da oração, O time da escola, tinha sido sublinhado.

– Só pra confirmar, professora... – Reinaldo esclareceu o motivo do aparte. – Time é o núcleo do sujeito?

– Exatamente – concordou Márcia.

– Eu sabia! – exclamou o garoto, para marcar que sabia mesmo.

Algumas caras de espanto, outras de gozação se viraram para ele. Com o canto do olho, Reinaldo pescou o olhar que lhe interessava. Parece que Valéria tinha gostado da exibição.

    Eduardo não gostou nem um pouco. Resolveu se intrometer, falando com a professora.

– Esse negócio de núcleo do sujeito a gente ainda não aprendeu – disse, numa queixa.

Gol contra. Reinaldo aproveitou e continuou o show. Falou de peito cheio para os colegas:

– O núcleo é a palavra central do sujeito. A mais importante de todas que fazem parte do sujeito. No caso, trata-se de timeTime é o elemento principal. O vencedor dos visitantes.

    E se voltou para Valéria, lembrando:

– Com a modesta participação dos meus passes para o Chico.

    A classe estava de queixo caído. Será que Reinaldo tinha tomado chá de enciclopédia? Até Márcia estava calada. Como todas as atenções continuassem nele, Reinaldo soltou mais um exemplo:

– Naquela outra oração, A professora de Matemática não veio hojeprofessora é o núcleo do sujeito.

É a palavra que exerce o papel central.

– Como é que dá para garantir isso? – perguntou a Regininha, lá no fundo da classe. Reinaldo não vacilou:

– Se a gente tirar a palavra professora, a oração fica até sem sentido.

– A... de Matemática não veio hoje – repetiu a Regininha em voz alta.

– Fica sem sentido mesmo! – concordou Valéria.

Amigo de Eduardo, Filipe sussurrou alguma coisa em seu ouvido. O garoto levantou a cabeça.

Seus olhos brilharam.

– E você sabe dizer, Reinaldo, se esse sujeito é simples ou composto? – perguntou Eduardo, certo de que colocava o colega contra a parede.

– Quero ver ele sair dessa – comentou Filipe, apertando a mão do amigo.

   Muita gente ficou de orelha em pé para escutar a resposta. Márcia ainda não ensinara a classificação do sujeito. Para a maioria da turma, esse assunto não podia ser coisa fácil.

– É sujeito simples – Reinaldo respondeu, superior. – Só tem um núcleo, professora. Aliás, como eu já disse.

    Todo mundo se voltou para Márcia, esperando a confirmação.

– Muito bem, Reinaldo! – a professora estava mesmo

surpresa. – Continue assim.

A essa altura, o garoto queria mesmo esbanjar.

– Aí no quadro, só tem uma oração com sujeito composto. É: Meu irmão e a prima de Maria foram ao cinema – Reinaldo foi em frente. – Dá licença, Márcia?

     Chegou até o quadro, grifando as palavras irmão e prima.

– Estas são palavras principais do sujeito, são seus núcleos.

Quando o sujeito de uma oração tem mais de um núcleo, ele é um sujeito composto. Certo, professora?

– Certíssimo!

   O sinal tocou. A confusão da saída começou. Reinaldo largou o giz. Foi buscar o material na sua carteira. Antes parou ao lado de Valéria. Respirou fundo.

– Não era má ideia um cineminha hoje à tarde... – convidou.

– Se a minha mãe deixar – a menina sorriu. – Me telefona...

Na volta para casa, Teleco estranhou o silêncio de Eduardo.

– O que é que está acontecendo com você? – quis saber curioso.

– Não dá pra explicar – resmungou Eduardo, carrancudo. – Na sua idade, você não vai entender.

    A diferença de idade dos dois era pequena. Mas Eduardo a usava, quando queria evitar que Teleco se intrometesse nas suas coisas. O irmão menor ficava bravo:

– Deixa de ser crica...

Eduardo precisava desabafar:

– É a Valéria, você sabe... – falou vagamente.

– Se soubesse não tava perguntando... – retrucou Teleco, impaciente.

 

OLIVIERA, Antônio Carlos. Um bom sujeito. Belo horizonte: Formato, 1997.

Fonte: Livro - Tecendo Linguagens - Língua Portuguesa: 8º ano/Tania Amaral Oliveira, Lucy Aparecida Melo Araújo - 5.ed. - Barueri(SP): IBEP, 2018 - p.49/50/51.

Fonte da imagem - https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbr.freepik.com%2Fvetores-premium%2Festudante-de-desenho-animado-escrevendo-no-quadro-negro_4740943.htm&psig=AOvVaw14GkSA8EFLxk39jHYDJNcQ&ust=1617749169014000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCMC9hLmX6O8CFQAAAAAdAAAAABAD




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