Luís Gama foi um importante intelectual negro do século XIX que atuou como jornalista e como rábula, sendo um defensor radical da abolição do trabalho escravo.
Luís
Gonzaga Pinto da Gama nasceu na cidade de Salvador, em 21 de junho de 1830.
Sabemos muito pouco da sua infância, e algumas das informações, segundo a
maioria dos historiadores, podem ter sido mitificadas pelo próprio. Quanto a
sua origem, sabemos que era filho de um homem branco e uma mulher negra.
Seu
pai, do qual não sabemos o nome até hoje, era um fidalgo bastante rico que
pertencia a uma das famílias mais tradicionais de Salvador. A mãe de Luís Gama
supostamente era Luísa Mahin, uma mulher negra originária da Costa da Mina e
que sobrevivia como quitandeira. Ela teria sido bastante envolvida com a
Revolta dos Malês e com a Sabinada.
Luísa
Mahin teria fugido para o Rio de Janeiro por conta da repressão instalada na
Bahia depois da Sabinada. No Rio de Janeiro, ela teria desaparecido, e Luís
Gama relatou que descobriu posteriormente que ela teria sido expulsa do Brasil
por praticar rituais religiosos africanos. Luís Gama, então, foi criado pelo
pai, que decidiu vendê-lo como escravo quando ele tinha 10 anos."
"Luís Gama como escravizado"
"Sua
venda como escravo pelo próprio pai teria acontecido porque este tinha dívidas
de jogo e precisava quitá-las. A escravização de Luís Gama era ilegal, mas,
ainda assim, ele foi vendido e transportado de barco para o Rio de Janeiro. Na
capital, ele teria trabalhado em uma loja de velas.
Depois
ele foi revendido para um alferes, que o levou para o interior de São Paulo,
até que, finalmente, ele foi revendido mais uma vez, indo morar em São Paulo e
trabalhar em ofícios domésticos. Durante o seu cativeiro, ele aprendeu a ler
por influência de um hóspede de seu “dono”. Depois disso, decidiu fugir e ir
atrás das provas de sua liberdade."
"Luís
Gama conseguiu provar a sua liberdade, embora não saibamos como ele tenha feito
isso. A partir daí, ele seguiu sua carreira profissional e foi um dos maiores
intelectuais do Brasil na segunda metade do século XIX.
Lília
Schwarcz, Flávio Gomes e Jaime Lauriano afirmam que a alfabetização de Luís
Gama, além de uma influência daquele hóspede sobre ele, pode ter sido também
resultado do contato que ele manteve com a leitura do Alcorão com os africanos
muçulmanos em Salvador. Isso pode ter criado seu forte vínculo com a leitura."
"Vida profissional"
"Depois
de reconquistar sua liberdade, Luís Gama aderiu à Força Pública de São Paulo e
alistou-se como praça. Isso aconteceu em 1848, e ele permaneceu na corporação
até o ano de 1854, quando um ato de insubordinação forçou sua prisão e
expulsão. Nesse período ele exerceu função de copista e chegou a trabalhar num
gabinete de delegacia.
Em
1856 ele se tornou funcionário público, indo trabalhar na Secretária de
Polícia, e tornou-se uma figura influente e bem relacionada. Seu trabalho com a
escrita na polícia demonstrava a habilidade que ele tinha para esse ofício, e
assim ele começou a produzir alguns textos, com seu único livro, Primeiras
trovas burlescas de Getulino, publicado em 1859.
A
partir da década de 1860, Luís Gama iniciou carreira como jornalista e
tornou-se um dos grandes jornalistas da cidade de São Paulo. Ele trabalhou em
vários jornais, como Diabo Coxo, Cabrião, Radical Paulistano, Correio Paulista
e Polichinello. Publicou artigos e atuou também como tipógrafo.
Luís
Gama era um defensor da república e um abolicionista radical, e usava de sua
posição como jornalista para defender as causas em que acreditava. Atribui-se a
ele a introdução do jornal satírico em São Paulo, e ele assinava muitos de seus
artigos com pseudônimos. Entre as posições políticas de Gama, destacou-se o
fato que ele se envolveu com a formação do Partido Republicano Paulista."
Luís
Gama foi um dos maiores abolicionistas do Brasil na segunda metade do século
XIX e usou de suas posições e de sua influência para defender o fim da
escravidão e auxiliar negros escravizados. Ele manifestava sua oposição à
escravidão em seus artigos jornalísticos, participou de associações
abolicionistas, e foi uma figura engajada.
A
principal forma de atuação de Luís Gama se deu por meio de sua atuação como
rábula, isto é, como advogado sem formação acadêmica. Ele chegou a frequentar
aulas do curso de Direito, mas nunca se formou. Acredita-se que essas aulas
mais o trabalho na delegacia tenham lhe dado o conhecimento necessário para que
pudesse atuar.
Ele
anunciava os seus serviços nos jornais de São Paulo, incluindo nos que ele
escrevia, e teve muito sucesso na defesa de negros escravizados. Na Justiça, Luís
Gama foi bem-sucedido em garantir a liberdade dessas pessoas ao demonstrar que
a escravização delas era ilegal à luz de uma lei de 1831 que proibia o tráfico
negreiro.
A
Lei do Ventre Livre, aprovada em 1871, também reforçou a atuação de Gama,
permitindo que ele conquistasse a liberdade de mais de 500 pessoas, segundo ele
mesmo afirmou. Lília Schwarcz, Flávio Gomes e Jaime Lauriano afirmam que a
atuação dele contra a escravidão rendeu-lhe inúmeros inimigos e uma série de
ameaças de defensores dessa instituição.
Luís
Gama morreu relativamente novo, com apenas 52 anos, em 24 de agosto de 1882,
por complicações causadas pela diabetes. Sua morte causou uma grande comoção, e
fala-se que seu o funeral atraiu quatro mil pessoas, o que correspondia a uma
considerável fatia da população de São Paulo, que, na época, tinha 40 mil
habitantes.
Sobre
a vida pessoal de Luís Gama, sabe-se muito pouco. O que se sabe é que ele se
casou com uma mulher negra chamada Claudina Fortunato Sampaio e que, desse
casamento, um filho chamado Benedito nasceu."
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